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Tricô em Público contra o furo de petróleo e gás em Portugal!
A Campanha Linha Vermelha esteve no Mercado Municipal de Montemor-o-Novo no dia 29 de Setembro, numa iniciativa organizada com a Rede de Cidadania e a Minga, para tricotar a maior linha vermelha do mundo pela transição energética, e contra a exploração de petróleo e gás.
Reproduzimos aqui o texto sobre este evento que foi publicado pela Rede Cidadania na Folha de Montemor de Outubro de 2018.
Quem foi ao Mercado Municipal no Sábado 29 de Setembro pôde assistir a uma actividade pouco usual: várias pessoas tricotando uma grande linha vermelha. Esta actividade foi uma iniciativa da Campanha Linha Vermelha, realizada em colaboração com a Cooperativa Integral Minga Montemor, a Rede de Cidadania de Montemor-o-Novo e a Associação Ciranda, a fim de chamar a atenção dos cidadãos para a questão da prospecção de petróleo e gás em Portugal.
A Linha Vermelha é uma campanha nacional que visa alertar e informar os portugueses sobre o perigo da exploração petrolífera e de gás (nomeadamente através de fracking) em Portugal. A campanha corre o país de norte a sul para tricotar a maior linha vermelha do mundo, dando visibilidade aos que dizem Não à prospecção e exploração de hidrocarbonetos, dentro e fora de Portugal. Através da tecelagem, do crochê e do tricot a campanha pretende informar e sensibilizar a população, e foi assim que naquela manhã conversámos, enquanto tricotávamos, sobre a questão da prospecção de petróleo em Aljezur e de gás no Concelho de Aljubarrota. Mulheres, homens e crianças, vendedores e transeuntes, foram muitos os que se juntaram a tricotar.
Mas, afinal, qual é o problema destas prospecções que se querem fazer em Portugal?
Desde logo há um risco real de acidentes graves na exploração petrolífera e de gás: desde explosões e incêndios nas plataformas petrolíferas ou marés negras, como já aconteceu no Golfo do México em 2010, à destruição dos fundos oceânicos e derrames frequentes que afetam os ecossistemas marinhos e costeiros. Na exploração de gás convencional em terra há risco elevado de sismos, contaminação de águas para consumo e agricultura e contaminação de solos com mais de 600 substâncias químicas tóxicas e cancerígenas. Se a exploração for feita por fracturação hidráulica (fracking), tanto em terra como no mar, os riscos são comprovadamente maiores, pois é uma técnica mais agressiva. É por isso que esta técnica já foi proibida em vários países europeus, como na França ou na Alemanha. Para além disso é uma técnica que desperdiça biliões de litros de água, que são injectados com areias e químicos na rocha, em alta pressão, a fim de libertar o gás.
Quanto às vantagens económicas de que tanto se fala, ficámos a saber que a exploração vai ser feita por empresas multinacionais não registadas em Portugal, e que só depois de recuperarem todo o investimento feito mais os custos de produção o Estado poderá vir a ganhar entre 5% a 9% dos lucros da venda de petróleo, o que poderá levar décadas a acontecer. Por contraste, na Noruega o Estado recebe cerca de 67%. Nem o preço de petróleo e gás para o consumidor irá ficar mais barato, nem será dada prioridade aos portugueses na sua compra, mas sim a quem pagar mais.
A criação de emprego poderia ser outro argumento a favor, mas os activistas da Linha Vermelha esclareceram que o trabalho em plataformas petrolíferas e de gás é altamente especializado e exige pouca mão-de-obra, e portanto a maioria dos postos de trabalho será ocupada por trabalhadores vindos de fora. O pouco emprego que poderá ser criado em Portugal estaria longe de compensar a perda de outros empregos no turismo, pesca e agricultura, afetados pela exploração de petróleo e gás.
A Catarina Gomes e o João Costa, activistas da Linha Vermelha, relembram-nos que um futuro sustentável e um desenvolvimento económico em Portugal pode ser baseado em indústrias e atividades compatíveis com a preservação do ambiente e da qualidade de vida e que não contribuam para o agravamento das alterações climáticas. Invista-se o petróleo ainda disponível numa transição energética e económica, progressiva e inevitável, para fontes de energia sustentáveis. Alternativas? A energia do sol, do vento ou do calor do interior da terra, a aposta na reabilitação urbana com eficiência energética, a mobilidade sustentável. Além disso, temos que mudar os nossos hábitos de consumo e parar com a cultura da descartabilidade e obsolescência dos produtos. Estamos a explorar os recursos do planeta mais rápido do que a sua capacidade de regeneração. Temos que pensar nas gerações futuras.
Isabel Pinto Coelho
Gerbert Verheij
Webinar ‘Como transitar para um modelo de economia circular?’
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