Mundo Minga
Da Minga ao Movimento Cooperativo | De Montemor-o-Novo ao Mundo
Como promover a retenção da água?
12 de Março, 18h30. Espaço Integral Minga
A conversa foi introduzida por Caetana Serôdio, que explicou como esta surgiu da iniciativa de desenvolver um folheto prático e acessível para divulgar entre os pequenos proprietários técnicas de retenção de água nos terrenos, tais como a recuperação ou criação de linhas de água, o aproveitamento da vegetação e zonas de sombra ou o melhoramento do solo.
A conversa foi muito enriquecida pelos saberes de Peter Bastiaan Zin, José Mateus e, por convite do último, Vasco Valle, ambos membros da Rede Florestar Portugal. Estiveram presentes cerca de 20 pessoas, trazidos por motivos vários mas todos preocupados com a questão da água, que a chuva das últimas semanas não fez esquecer.
Depois de uma breve recapitulação dos principais pontos da conversa anterior sobre permacultura pelo Peter entrámos na questão da água. Enquanto as causas para a falta da água, o José Mateus referiu que em realidade cai bastante água nesta região, uma média de 400 mm por m2 no Alentejo e em Montemor 662 mm por m2, o que dá uns 6620 m3 por hectare por ano (dados de acordo com climate-data.org). O problema é que o solo não é rico e não absorve bem esta água que cai. O trabalho mecânico da terra (tractores, grades, etc.) tiram todo o material orgânico e vida micro-biológica do solo, que são precisamente aquilo que aumenta a capacidade de retenção de água do solo e o tornam uma espécie de esponja. O Peter falou da importância das árvores para a retenção da água da chuva. Por cima dos nascentes sempre se encontram florestas que as potenciam, e é de interesse público encontrar formas de proteger estes eco-sistemas que viabilizam nascentes e rios e de promover a florestação das partes altas das nascentes.
Referiu-se também que o eco-sistema tradicional desta região, o montado, não é por si solução, já que actualmente a auto-regeneração do montado não existe, devido ao uso pecuniário intensivo e às formas de trabalhar a terra.
Tentando resumir as várias propostas para aumentar a retenção da água num dado terreno, destacam-se quatro temas:
- Criação e recuperação de linhas de água. O princípio a seguir aqui é abrandar, afundar e espalhar a água que corre pelo terreno por precipitação ou humidade. Para tal, é preciso criar linhas de água e barreiras nos sítios certos, fazendo-a percorrer o caminho mais comprido e difícil a fim de conseguir o máximo de absorção pelo solo. Por norma, as linhas de água devem correr perpendicularmente ao declive dominante, em linhas de nível, com uma inclinação ideal de 2 graus.
- Melhoramento do solo. O mais importante aqui é deixar a natureza trabalhar na retenção da água. Um aspecto básico é encontrar formas de refrescar a superfície do solo, pela criação de zonas de sombra e a cobertura por matéria orgânica. Uma grande diferença de temperatura entre a água e o solo faz com que esta evaporiza no contacto, e por isso quanto mais fresco o solo, mais absorve a água. A existência de matéria orgânica no chão não só ajuda a refrescar o solo mas também promove a existência de espécies como fungos que também ajudam a reter à agua. Plantas, cobertura orgânica e raízes fazem do solo uma esponja.
- Vegetação e árvores. Mais plantas, arbustos e árvores implica mais água, e é especialmente importante promover a vegetação de raízes fundos. Uma bolota chega a trabalhar a terra a dezenas de metro, e é por isso muito mais eficaz do que as alfaias ou subsoladores. A vegetação é condensadora da água, cria humidade e até precipitação, e distribui esta água tanto para cima como para baixo (pelas raízes). É por isso muito vantajoso criar linhas de floresta nos terrenos, cujas técnicas foram discutidas com algum pormenor. Conhecemos algum do trabalho que o José Mateus tem desenvolvido sobre o tema, e esperamos regressar a este tema no futuro.
- Protecção de rios e nascentes. Também a necessidade de proteger e conservar os rios e nascentes foi referida várias vezes. Os rios precisam de uma vegetação saudável que os deixa a sombra, a fim de criar uma circulação de ar húmido que fertiliza os terrenos envolventes. O Peter insistiu que é essencial haver presença humana no rio, e referiu a antiga arte da talharia, de cortar bem as árvores para que haja uma floresta saudável. Soubemos também que as barragens não são uma boa solução, porque interrompem os rios e os ciclos de vida da água e porque os grandes espelhos de água são extremamente ineficazes na retenção da água durante as épocas de temperatura alta.
Surgiu ainda a proposta de passar à prática, organizando jornadas de trabalho formativo em terrenos disponibilizados pelos seus donos. Brevemente esperamos dar mais notícias sobre este tema.
Peter Bastiaan Zin é um mestre de permacultura, viajante e pensador. Tem trabalhado sobre a recuperação da floresta e o papel da árvore na regulação e interconexão entre os elementos em sistemas ecológicos, entre outros.
José Mateus é biólogo de formação, e tem sempre trabalhado nas áreas da agricultura. É especialista em fungos, cogumelos, permacultura, propagação de espécies, entre outros.
Webinar ‘Como transitar para um modelo de economia circular?’
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