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Sistemas alimentares locais: um cabaz de soluções
Da edição de Novembro da Folha de Montemor reproduzimos o seguinte artigo da Ana Fonseca, da Rede Cidadania, onde explica, uma por uma, todas as razões pelas quais devíamos consumir local sempre que possível, e os vários modelos que existem para possibilitar e promovê-lo. Obrigado à autora e à Folha pela cedência.
A promoção dos sistemas alimentares locais faz sentido tanto:
- numa perspectiva de apoio às economias locais,
- como numa perspectiva ambiental e de redução da pegada dos alimentos por via das distâncias percorridas entre o local de produção e de consumo,
- mas também por via da redução da necessidade de apoio do sistema de frio e de material de embalamento e conservação,
- numa perspectiva de obtenção de produtos com melhor sabor e maior teor de vitaminas e outros nutrientes, por serem apanhados na época própria e imediatamente antes de serem vendidos,
- e por fim, numa perspectiva de utilização de variedades locais de hortofrutícolas que, estando mais adaptadas às condições do território, permitem reduzir as necessidades de utilização de água e fitofármacos, para além de possibilitarem a manutenção de um património genético relevante para a segurança alimentar.
Existem vários modelos de promoção dos sistemas alimentares locais que vão desde:
- As “pick-your-own fruit and vegetable farms”, em que o produtor se dedica a produzir e o consumidor é que está encarregue de recolher as suas próprias hortícolas e vegetais.
- As AMAPs – Associações pela Manutenção da Agricultura de Proximidade – muito disseminadas em França, mas com alguma disseminação já em Portugal, com estabelecimento de contractos anuais ou semestrais, pagamentos mensais e recebimento de produtos semanalmente. Normalmente são os consumidores que se encarregam de recolher e dividir a produção semanal do produtor pelas famílias da AMAP. A relação Produtor/Consumidor tende a ser na proporção de 1 para 10 famílias. E quando há necessidade de apoio financeiro extra, ou de trabalho, os consumidores podem fornece-lo.
- Os CSA – Comunity Supported Agriculture – Agricultura com Apoio da Comunidade, que podem incluir várias modalidades como aquisição de cabazes de explorações locais e apoio dos consumidores com trabalho, na própria exploração.
- Os Cabazes do PROVE – em que diferentes produtores se organizam de forma a disponibilizar cabazes semanais aos seus consumidores, estes só têm de indicar os produtos que não pretendem receber.
- Certificações Km0 – em que se garante que a distância entre o local de produção dos alimentos e o seu local de consumo ou venda ao consumidor final não é superior a um determinado limiar, no caso de Évora 50 km.
- Cooperativas de produtores e consumidores.
- Mercados de produtores.
Estes diferentes modelos implicam diferentes graus de comprometimento dos consumidores que, em geral, é decrescente nos modelos apresentados acima.
O concelho de Montemr-o-Novo é fértil neste tipo de soluções e nesse sentido podemos encontrar a Herdade do Freixo do Meio, que faz parte da associação das AMAPs portuguesas.
As AMAPs são Associações para a Manutenção da Agricultura Proximidade, e surgiram nos anos 60 no Japão, onde é conhecido por TEIKEI. Noutras regiões do mundo são também conhecidas por CSAs (Community Supported Agriculture).
Em Portugal a primeira iniciativa de promoção e disseminação do conceito AMAP surge em 2003 com o projecto Re.Ci.Pro.Co, e, mais tarde os PROVE.
Os Cabazes do PROVE – Promover e Vender, inspiraram-se nas AMAPs mas são já uma adaptação deste conceito de forma a requererem um menor grau de comprometimento por parte dos consumidores. No entanto foram essenciais para uma vulgarização deste consumo de proximidade, uma vez que se disseminaram por todo o país. Estes Cabazes marcam também presença no concelho de Montemor com fornecimento regular de produtos por parte de três agricultores e pontos de encontro e de contacto disponíveis no site institucional da iniciativa.
A certificação Km0 Alentejo teve início no concelho de Montemor-o-Novo com a iniciativa Km0 Montemorense. Entretanto, fruto da experiência obtida neste concelho, evoluiu para uma forma mais madura e consistente – a iniciativa Km0 Alentejo. Constatou-se a necessidade de existência de certificação, dada a forte tentação de adulteração do conceito, e também de simplificação. Desta forma, com o objectivo de favorecer uma fácil apreensão do conceito, definiu-se que Km0 Alentejo seriam os produtos cujo local de produção e venda ao consumidor final não distassem mais de 50 Km. Também se percebeu a necessidade de apoio à certificação, que implica alguns custos para os elementos envolvidos, embora nem todos façam questão de recorrer a este apoio.
Num concelho com um forte historial em cooperativismo surgiram duas novas cooperativas associadas à produção/consumo de alimentos locais e sustentáveis – A Cooperativa integral MINGA e a Cooperativa de Usuários do Freixo do Meio. A primeira destaca o objectivo de “actuar em todos os ramos necessários ao viver”, surgindo “como plataforma de convergência e transição para uma economia mais limpa, justa e ligada às pessoas”. A segunda nomeia como objetivo principal “gerir coletivamente o Montado do Freixo do Meio, por forma a compatibilizar a melhoria permanente da relação com os recursos e a obtenção da abundância de bens e de serviços”.
Também o Mercado de Produtores do nosso concelho tem tido esta função de disponibilizar um espaço onde os pequenos agricultores de agricultura familiar podem vender os seus produtos.
A estas iniciativas juntam-se outras que nem sempre tiveram continuidade, mas que são reveladoras de que este é um concelho vocacionado para a produção alimentar de carne e hortofrutícolas, provenientes de diferentes tipologias de exploração e modos de produção, mas sobretudo criativo em soluções e fortemente inovador no que à alimentação diz respeito. A conjugação destes diferentes modelos parece poder responder adequadamente às diferentes necessidades dos consumidores, às diferentes épocas das suas vidas e disponibilidades de tempo e orçamento. Saibamos nós reconhecer esta riqueza, defendê-la e valorizá-la.
Webinar ‘Como transitar para um modelo de economia circular?’
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