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Envelhecimento com Qualidade – como se pode aprender conversando
No dia 4 de novembro decorreu no Espaço Integral da Cooperativa Integral Minga mais uma conversa temática, neste caso dedicada à saúde e focada no envelhecimento com qualidade. Publicamos aqui o resumo feito pelo Rui Pulido Valente. Obrigado Rui!
Para alimentar a troca de informação e animar o diálogo nesta conversa estiveram a Profª Isabel do Carmo e a Drª Isabel Pulido Valente. Esta iniciativa resultou de uma pareceria entre a Minga, a Fundação Pulido Valente (da qual fazem parte as duas convidadas) e a Mais Participação, Melhor Saúde, projeto conhecido por ter lançado em 2016, na Assembleia da República, a Carta para a Participação Pública em Saúde, com o alto patrocínio da Presidência da República.
Esta foi uma sessão cheia de ensinamentos e importantes reflexões sobre a forma de envelhecer em Portugal, e a ausência da especialidade de geriatria no acompanhamento dos mais idosos, seja a nível das consultas, dos hospitais, dos lares, ou mesmo do apoio domiciliário.
Na sua intervenção inicial a Profª Isabel do Carmo começou por chamar a atenção para o grande salto que se verificou na área da saúde nos anos 50 do século passado, com a introdução dos antibióticos, que reduziram drasticamente o número de mortes prematuras devido a infeções em todos os níveis etários.
Atualmente, a maior parte do risco de morte por doença vem da obesidade, da diabetes e das doenças cardiovasculares, com contributo também dos problemas respiratórios. Face a estas doenças. uma parte importante da prevenção está na nossa alimentação e no nosso modo de vida. No entanto, nesta área temos dificuldades em lidar com uma diferença subtil que leva à distinção efetiva entre o que devemos ou não ingerir: trata-se de passar da expressão É provável que…, para o Está provado que…. Um exemplo concreto é o do açúcar, que está provado que é prejudicial à saúde. Em contrapartida, apenas podemos afirmar que é provável que a carne vermelha nos traga complicações de saúde, quando em excesso.
Mas podemos afirmar, hoje, que está provado que o peixe é melhor que a carne em termos de saúde humana, e que está provado que os legumes e a fruta são alimentos muito bons para salvaguardar a nossa saúde. Está provado que o azeite é bom, desde que em quantidades razoáveis.
Também está confirmado, a partir de estudos alargados, que os centenários estudados em Portugal comiam pouco, provando-se que um fator importante para nos mantermos saudáveis será ingerir alimentos em quantidades controladas.
A intervenção da Drª Isabel Pulido Valente foi mais orientada para a caraterização do panorama da geriatria em Portugal e para uma área bastante sensível que é a da qualidade da morte.
O nosso País está muito atrasado no reconhecimento da especialidade da geriatria, como especialidade de capital importância na formação dos médicos e na gestão do envelhecimento. Temos 21% de idosos, mas não temos um atendimento específico para os idosos, enquanto que toda a estrutura do apoio pediátrico serve 14% da nossa população. Com o envelhecimento da sociedade a situação tem tendência a agravar-se. Não há urgências para idosos, não há hospitais para idosos, não há especialistas de geriatria no Sistema Nacional de Saúde.
Há três domínios essenciais associados à geriatria: Reabilitação, Nutrição e Social. A estes podíamos acrescentar a saúde mental devido aos problemas da demência. Partindo destas áreas compreende-se que é necessário encontrar soluções sociais e insistir muito no exercício físico – mas não a hidroginástica, que não puxa pelo músculo. O idoso precisa tanto quanto o Ronaldo de recuperar o músculo, que no envelhecimento tem muita tendência a perder-se. Para compensar, tem que levar o exercício ao limite e selecionar uma alimentação apropriada, com a proteína necessária. É preciso alimentar o músculo pelo que terá que haver proteína na dieta.
Há três questões muito importantes a partir dos 65 anos: apoio de geriatria, cuidados paliativos e dor. Os cuidados paliativos são cuidados prestados a doentes com doenças que não têm cura. Quanto à dor, há pouco conhecimento dos médicos, pelo que a dor não é bem tratada em Portugal. Há muitas Faculdades de Medicina onde não há qualquer cadeira que aborde esta problemática ou, então, são Unidades Curriculares opcionais. Não é verdade que a dor faça parte do envelhecimento, ao contrário do que muitas pessoas acreditam. Envelhecer representa a perda de capacidade de um órgão se adaptar à homeostasia.
A Drª Isabel Pulido Valente referiu-se, ainda, aos indicadores de qualidade da morte, informando que, num universo de 40 países, Portugal ocupa o 33º lugar, sendo a primeira posição, como país que melhor trata a morte, ocupado pelo Reino Unido.
No decurso das duas intervenções houve muitas perguntas e relato de muitas experiências, que permitiram a todos os presentes ficar mais bem informados e despertos para aspetos do envelhecimento que podemos gerir melhor.
Rui Pulido Valente
5 de novembro 2019
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